segunda-feira, 14 de maio de 2012

O rango está (quase) na mesa

A saga da comissão responsável por encontrar um lugar para o bandejão da Praia Vermelha

POR DÉBORAH COUTINHO

Era uma tarde quente de setembro na Ilha do Fundão. A sala do Consuni, o Conselho Universitário, estava apinhada de gente – muito mais do que seus cerca de 50 membros habituais. Alunos de vários cursos se apertavam entre as cadeiras e se espremiam nos corredores. A sessão estava se aproximando do fim e o clima geral era de grande tensão. Do lado de fora, outras dezenas de estudantes acompanhavam a assembleia por uma televisão, enquanto frases como “Cumpra suas promessas, Levi!” e “Vamos votar logo” entrecortavam as falas oficiais que saíam pelas caixas de som.

Haviam sido três semanas exaustivas de mobilização estudantil. Inaugurado com um “ato-almoção” capitaneado pelo DCE, o período continuou com seguidas ocupações, pelos estudantes, de sessões do Consuni. O objetivo era colocar em pauta – e aprovado – o projeto do restaurante universitário para as unidades isoladas da UFRJ, com destaque a um pedido de prioridade para a Praia Vermelha. Naquela quinta-feira de setembro, muitos estudantes chegaram ao Fundão com sacos de dormir dentro das mochilas. Se mais uma vez os conselheiros encerrassem a sessão, havia fortes chances de que eles não deixassem o prédio da reitoria.

A votação, no entanto, foi inevitável, assim como a aprovação da proposta. Estudantes explodiram em brados e aplausos. Do lado de fora, os confortáveis sofás viraram palanques para os líderes discursarem. Depois de muita comoção, os alunos seguiram Reitoria afora cantando “Nas ruas, nas praças/ quem disse que sumiu?/ Aqui está presente o movimento estudantil!”.

Três semanas depois, o Consuni publicou uma resolução cujo primeiro artigo consistia em adotar ações para fortalecer as políticas de assistência da UFRJ. Em relação aos restaurantes universitários, o conselho exigiu a criação de uma comissão paritária composta por representantes de estudantes, de funcionários técnico-administrativos, de docentes e da Reitoria para estudar a viabilidade dos bandejões e propor um cronograma das obras. Na aprovação, ficara acertado que a maior parte do dinheiro para o projeto viria da economia que a UFRJ teve em 2011 com os custos do vestibular, uma vez que a universidade adotou o Enem como forma única de acesso aos seus cursos de graduação.

Além de um bandejão para a Praia Vermelha, a comissão analisaria também a instalação de restaurantes universitários no Centro de Tecnologia e em unidades como Xerém e Macaé. Ao mesmo tempo, a UFRJ se comprometia em ampliar a capacidade dos bandejões já existentes, oferecendo também jantar para os alunos do turno da noite.

Até o fim do ano, o tema esmoreceu. Mas na primeira segunda-feira de fevereiro os membros da comissão reuniram-se na mal conservada sala do DCE: era hora de iniciar a discussão das propostas. O encontro começou com apresentações e pequenas conversas entre amigos. A ideia era fazer um diagnóstico de como andava o sistema de alimentação da Praia Vermelha e identificar opções para melhor acomodação do restaurante universitário.

Encabeçados pelo presidente da comissão, o professor Antônio Oliveira, o grupo saiu em uma expedição pelo campus, buscando possíveis locais para a implantação do bandejão. A princípio, as sugestões foram os restaurantes já existentes, como o do DCE e o antigo Restaurante do Campus, o que faria com que a obra fosse menos custosa e mais rápida. Mas também foram considerados espaços como uma área abandonada próxima ao Instituto de Neurologia e outra no campinho, perto da Editora UFRJ.

O grupo visitou também o prédio onde até recentemente funcionava o Bingo Botafogo. O espaço, próximo à Casa da Ciência que foi retomado pela Universidade, está abandonado. Se depender da comissão, no entanto, não por muito tempo. De todos os lugares inspecionados, foi o que mais agradou.

O arquiteto da UFRJ Walter Rufino pontuou que, por ser afastado dos prédios de ensino, o espaço poderia ser considerado muito distante pelos alunos. Lúcia Andrade, diretora do sistema de alimentação universitário, concordou e acrescentou que isso dificultaria que os alunos comessem no período entre aulas. Considerou, no entanto, que como não havia local mais próximo, seria a melhor opção: o lugar tem acessibilidade para pessoas e também para caminhões que trarão os alimentos e recolherão o lixo, além de espaço suficiente para o salão onde serão servidas as refeições.

Tadeu Lemos, representante dos estudantes na comissão, apoiou a decisão. “Com a retomada do Canecão e a proximidade da Casa da Ciência, a área tende a virar um complexo cultural, o que tornará o local mais movimentado e com demanda ainda maior por alimentação barata para alunos e funcionários”, sustentou.

Oliveira encerrou a reunião com a definição de prazos para a entrega de diagnósticos técnicos. Quando lhe perguntei sobre uma solução de curto prazo para os estudantes, ele acenou com a possibilidade de concessão de auxílio financeiro. Mas logo acrescentou: “Isso vai ser um problema porque não podemos dar para os alunos que já recebem bolsa assistência. Por outro lado, quais serão os critérios para alguma concessão de benefício? Isso é uma coisa que eu não vou propor unilateralmente”, explicou o professor, também superintendente de políticas estudantis. “Quero que a ideia seja lançada nos próximos encontros e, se for o caso, é a comissão que fará uma proposta.”
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