POR ALINE BONATTO (*)
A greve das instituições federais chegou a três meses. Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcio Tavares D’Amaral, a reivindicação por melhores salários e revisão do plano de carreira deve ser de outro jeito. Professor da graduação e da pós-graduação da Escola de Comunicação da UFRJ e com 40 anos de experiência, Marcio acredita que os professores devem lutar, mas precisam usar as armas que têm, não um mecanismo que foi criado no século XIX.
Marcio Tavares, professor da UFRJ, critica a greve nas universidades federais do Rio: “Só prejudica os alunos da graduação” (Marcelo Theobald) |
EXTRA - Professor, qual é a sua opinião sobre a greve?
MARCIO - Apesar de concordar que devemos lutar pela valorização profissional, sou contra a greve. Para mim, é uma forma de luta é burra, injusta e covarde.
EXTRA - Por que a greve tem essas características?
MARCIO - A greve é burra porque nós somos a elite intelectual do país e não é possível que só saibamos lutar usando essa arma. Nós temos que reivindicar como intelectuais e, se isso não der resultado, é porque não fazemos falta. A greve é injusta porque os professores continuam recebendo seus salários. Por último, é covarde porque prejudica os alunos de graduação, já que a pós-graduação continua com as aulas.
EXTRA - E as reivindicações?
MARCIO - Concordo com a reivindicação salarial. Assim como os técnicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), somos pesquisadores. Além disso, por sermos professores, produzimos gerações. Entretanto, o crescimento dos nossos salários é menor em relação ao dos outros pesquisadores. Já o plano de carreira atual, acho melhor que as propostas dos sindicatos, mas não é ideal. Precisamos pensar em algo que favoreça os professores e respeite a formação de cada profissional.
EXTRA - Qual seria opção à greve?
MARCIO - O Brasil tem 59 universidades federais. Uma ideia seria reunir dois representantes de cada instituição, que tivessem uma representação nacional ou regional, e levá-los a Brasília para debater com a presidente Dilma Rousseff. Seria um fato político. Assim, seria possível ampliar a discussão e fazer com que ela chegasse à sociedade. O governo tem medo que a sociedade saiba que ele está agindo mal.
EXTRA - Como o senhor avalia a situação dos alunos?
MARCIO - Os alunos de graduação são, sem dúvida, os mais prejudicados com a greve, se não forem os únicos. São eles que estão há três meses sem aulas. Os estudantes da pós-graduação continuam tendo aula porque os órgãos que financiam as bolsas não reconhecem a greve. As bolsas de mestrado e doutorado têm prazos a serem cumpridos.
EXTRA - O governo já disse que a reposição das aulas será obrigatória. Qual sua opinião?
MARCIO - Umas das questões sempre discutida na saída de greve é a reposição das aulas. Isso está fora de questão, porque, é claro, que deve acontecer. Afinal, os alunos não podem ser penalizados pelos nossos atos.
EXTRA - Não parece um descompasso que o Brasil receba um ganhador do Prêmio Nobel como professor convidado, mas que as universidades federais estejam em greve?
MARCIO - É uma situação antagônica. Um profissional como esse tem muito a nos ensinar, e os alunos poderiam aproveitar esta troca de conhecimento. Com a greve, entretanto, perde-se bastante. A maioria dos estudantes não sabe da programação e acaba não participando dos eventos que são oferecidos na universidade.
(*) Matéria reproduzida do jornal Extra