segunda-feira, 14 de maio de 2012

Quero ser cineasta

Enquanto o curso de Rádio e TV cresce, o debate sobre o nome e o turno da habilitação ganha fôlego

POR PEDRO MUXFELDT



Desde que se somou à equipe da Eco em regime de dedicação exclusiva, a professora Anita Leandro tornou-se uma “cineasta de final de semana”. Há cerca de um ano e meio, ela concilia a montagem de seus projetos pessoais e o trabalho em sala de aula com a coordenação do curso de Rádio e TV. Segundo ela, aliás, a experiência de muitos professores com o cotidiano da produção cinematográfica é um ponto forte do curso. “Houve uma renovação do corpo docente e trouxemos muitos profissionais com experiência não só teórica, mas também prática”, apontou. “São professores que têm uma relação melhor com as novas tecnologias.”

Mesmo assim, entre uma aula e outra, ela contou à reportagem do Ecos que duvida do tão falado crescimento do curso, apesar de reconhecer que ele vem se desenvolvendo. “Acredito que o que mais atrai os alunos é o fato de ser a única habilitação à noite”, especulou ela, que tem mestrado e doutorado em cinema pela Université Paris III. “Então o aluno pode conciliar trabalho e estudo.”

Diego Amorim é aluno de Rádio e TV e tem andado ocupadíssimo. Prestes a se formar, ele divide seu tempo entre a produção de O Farol, seu curta de final de curso, o trabalho no braço brasileiro do Centro de Informações das Nações Unidas e a organização das atividades do Cinerama. No dia em que lhe entrevistei, ele estava às voltas com os últimos ajustes para uma sessão pioneira do cineclube no Campinho, que exibiria o documentário de Martin Scorsese sobre a vida do beatle George Harrison. Para Diego, o projeto está ajudando a estabelecer uma “cultura de cinema” na escola.

“O Cinerama já existe há muito tempo, mas de uns tempos para cá, se reinventou”, explicou. “Hoje, auxiliamos na divulgação dos trabalhos dos formandos em eventos como a Ecomostra e o Prata da Casa. Isso estimula o aluno a produzir e a ingressar na habilitação.” O cineclube, porém, tem planos ainda mais audaciosos: o próximo passo será a criação de uma produtora.

“A ideia ainda é embrionária, mas o objetivo é ter material próprio para ceder aos alunos”, contou Diego num tom otimista. Como primeiro passo, o Cinerama em breve passará a ocupar a sala da CPM onde funcionava o Pontão de Cultura. Com endereço físico, o grupo buscará então se transformar em uma empresa júnior, uma das condições si ne qua non para o estabelecimento da produtora.

Uma questão, no entanto, ainda segue atormentando alguns dos alunos do curso: a nomenclatura da habilitação. Quando Anita assumiu a coordenação, a mudança do nome foi acordada entre os professores e bastaria um aviso ao reitor para que o atual nome de radialismo cedesse lugar à denominação de audiovisual. “A questão tem muitos poréns”, suspirou a professora. “Fizemos consultas com os sindicatos de cinema e o de radialistas, que também representa os profissionais de televisão. Os dois sugeriram a manutenção do nome.” O motivo é simples: ao obter um diploma em radialismo, o profissional está liberado para exercer até 74 funções. Já alguém formado em audiovisual só pode começar a trabalhar como assistente de direção.



Diego se surpreendeu quando soube do dilema. Mesmo assim, mostrou-se favorável à mudança. “Poderemos reivindicar mais mudanças no curso, como acabar com matérias já obsoletas e abrir espaço para disciplinas mais práticas”, opinou. Ciente da complexidade da questão, Anita planeja chamar representantes dos dois sindicatos para debater a situação com os alunos. Ao receber a notícia, Diego animou-se. “Um debate é essencial. Os alunos precisam ser informados para formarem uma opinião mais concreta sobre o tema”, disse.

No início de maio, uma reunião do Condep, o Conselho Departamental, reuniu a diretora da Eco Ivana Bentes, Anita e outros professores e representantes do Caeco. A nomenclatura do curso entrou na roda de discussões, mas o nome Rádio e TV permaneceu – pelo menos, por enquanto. Diego criticou a decisão. “Não entendi por que voltaram atrás. Parece que alguns lados da Eco permanecem agarrados ao osso do funcionalismo público, querendo a conservação do que já existe”, atacou.

A professora Anita garantiu ser “totalmente favorável” à troca. “O que acontece é que, devido às questões trabalhistas, optamos pela cautela”, explicou, depois que rumores nas redes sociais apontaram que ela teria se posicionado contra a alteração. “Vamos levar o caso ao Ministério da Educação e à Delegacia do Trabalho para que possamos efetuar a mudança sem prejudicar nossos alunos.”

Outra questão que foi pauta na reunião foi o turno do curso. Segundo Anita, o Mec exige uma definição precisa – atualmente, as aulas ocorrem à tarde e à noite – e o Condep sugeriu transformar a habilitação em exclusivamente noturna. “Para os alunos que trabalham, é o ideal. Contudo, o curso teria que durar um ano a mais. Precisamos ver se isso interessa aos alunos”, ponderou a coordenadora. Em seu último ano de faculdade, Diego também comentou a proposta: “A mudança nos será benéfica, mas não altera o programa pedagógico. O que precisamos é de disciplinas novas e de materiais técnicos de melhor qualidade”, enfatizou.
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