POR CARLA DUARTE
Com 2.500 pontos de coleta em cinco municípios da Baixada Fluminense, a Cooperativa Mista de Coleta Seletiva (CoopCarmo), do bairro de Jacutinga, Mesquita, recicla por mês cerca de 70 toneladas de lixo. Lana, uma das participantes da CoopCarmo, conduziu uma conversa sobre a participação das mulheres na reciclagem que aconteceu na Cúpula dos Povos nesta sexta-feira. “A CoopCarmo existe desde 1993 e vem transformando a vida de muitas mulheres da comunidade”, afirmou. Segundo ela, o nome CoopCarmo é uma homenagem a Nossa Senhora do Carmo. O projeto nasceu após a viagem de um pároco da igreja local, que viu em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, o exemplo de uma cooperativa que havia transformado uma comunidade.
Houve dificuldade por conta da falta de suporte do poder público. Lana disse que no início havia poucos recursos e força de trabalho. “Sofríamos preconceito na rua quando recolhíamos o lixo, nos chamavam de ‘cheirosas’. A situação mudou depois que Mesquita foi emancipada e o prefeito da época nos apoiou comprando um caminhão”, contou. A parceria com a Ong belga Terre Autre Terre também foi crucial. Atualmente, treze mulheres e um homem dão conta de todo o trabalho.
A cooperativa ajuda no resgate da cidadania das mulheres |
Elas já tiveram experiências ruins com homens que trabalharam na cooperativa. “Enquanto nós trabalhávamos eles ficavam nos fundos do galpão, soltando pipa.” Por isso, elas decidiram trabalhar somente com mulheres. O único homem que trabalha com elas é um idoso, que sobreviveu a três derrames e encontrou na cooperativa sua única oportunidade de trabalho.
Muitas mulheres que trabalham na cooperativa são sobreviventes de violência doméstica. Para elas, ter sua própria renda ajuda a superar a realidade de agressão que viveram. Hoje, a cooperativa cresceu e até treina pessoas que estão começando a trabalhar na área. Lana é cozinheira do espaço, além de fazer bijuterias com materiais reciclados. Ela contou que trabalhando com reciclagem encontrou uma forma de melhorar a autoestima: descobriu que, confeccionando seus adereços, consegue transformar o lixo em algo belo.