quarta-feira, 20 de junho de 2012

O lado oculto dos megaeventos

POR FREDERICO VREULS

A Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa lançou na Cúpula dos Povos a segunda edição do dossiê “Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil”. A apresentação na última segunda-feira, dia 18, apontou os principais problemas relativos aos grandes empreendimentos esportivos e às políticas de desenvolvimento do país.

Para Orlando dos Santos Jr., do Observatório das Metrópoles, o Brasil passa por um processo de reestruturação urbana. Segundo ele, as cidades têm sido geridas como empresas, com a implementação de projetos especulativos para a atração de capitais. O professor criticou que o Estado vem se aproveitando do forte poder simbólico dos esportes para a legitimação dessa política, marcada pela falta de transparência e de participação popular, o que evidencia autoritarismo.


De acordo com Orlando, as consequências da adoção desse modelo de “urbanização neoliberal” seriam remoções forçadas, endividamento do Estado, violação de direitos trabalhistas e criminalização de áreas pobres, além de militarização e mercantilização do espaço urbano. Para ele, esses dados revelam um “legado oculto de caráter perverso deixado pelos megaeventos”.

Thiago Hoshino, do Comitê Popular da Copa de Curitiba, afirmou que o lançamento do dossiê combate uma política de desinformação e mitificação a respeito dos eventos. “Nós não somos contra o esporte. Não é a paixão pelo esporte que tem movido esses projetos, mas sim os negócios, o que acaba por elitizar o acesso aos jogos.“ Segundo ele, 170 mil pessoas já foram removidas involuntariamente por meio de programas financiados pelo governo e os gastos de dinheiro público alcançam o valor de R$ 112 bilhões. Até o momento, também já foram deflagradas dezoito greves de trabalhadores nas obras dos estádios.

Representando a Frente de Resistência Urbana, Felipe Brito  criticou a violência oficial e extra-oficial resultante da implementação de uma reforma segregadora do espaço urbano. Ele também denunciou que o Rio de Janeiro se transformou em um laboratório privilegiado dessas intervenções. Felipe fez um apelo para que os movimentos sociais estimulem o protagonismo e a ação direta dos mais atingidos sob uma perspectiva coletiva. “Precisamos estreitar vínculos, pois o rodo está implacável”, disse. Como forma de resistência, sugeriu a criação de plebiscitos e jornadas de luta com paralisação de obras.
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