terça-feira, 12 de junho de 2012

Moradores de comunidades pacificadas criticam UPPs

POR MIRIAM PAÇO

Em debate realizado na Youth Blast, a Conferência da Juventude para a Rio+20, jovens moradores de comunidades cariocas criticaram a suposta imagem de segurança pública trazida pelas Unidades de Polícia Pacificadoras, as UPPs. Eles fazem parte do grupo “Cidade Unida”, criado por moradores de favelas como Cidade de Deus, Complexo do Alemão, Rocinha e Vidigal para discutir problemas locais e monitorar políticas públicas. O debate aconteceu no último domingo, dia 10, no Centro de Convenções Sul América.


Pedro Henrique de Cristo, mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Harvard e representante da Onu no Brasil, ressaltou a disparidade entre as zonas mais pobres e a localização das UPPs na cidade. Enquanto a pobreza está concentrada nas zonas Oeste e Norte, a maior parte das UPPs está instalada na Zona Sul. “Elas estão protegendo as riquezas e a infraestrutura para os megaeventos que serão realizados no Rio de Janeiro”, afirmou.

Quem compartilha dessa opinião é Luciano Garcia, morador do Complexo do Alemão. “As UPPs vêm por trás de interesses políticos para vender uma imagem da favela limpa e de que estamos felizes com isso”, criticou ele, que destacou também o aumento do custo de vida após a pacificação e a falta de políticas de desenvolvimento nas comunidades. “As unidades não são políticas de segurança, mas grupamentos de contenção das camadas mais pobres da sociedade. Favela silenciada não é favela pacificada. O que existe é uma militarização da vida cotidiana”, completou Raull Santiago, também morador do Alemão.

Cinco meses após a inauguração da UPP do Vidigal Felipe Paiva teve pela primeira vez a oportunidade de falar sobre a pacificação: “Eu não gosto desse termo, mas ele vem como um processo de aproximação de duas cidades historicamente distantes: a favela e o asfalto”.


No entanto, apesar das críticas à falsa imagem construída sobre as unidades pacificadoras, Pedro reconheceu o avanço das UPPs como ação isolada, que possibilitou um fluxo comunicacional entre as favelas, o que antes não era permitido. Entre os integrantes do “Cidade Unida” está a pesquisadora alemã Verena Brähler. Ela está visitando as favelas cariocas como pesquisa de campo para sua tese de doutorado, em Londres, sobre desigualdade e segurança no Rio. “Eu decidi fazer parte porque gosto dessa ideia de integrar pessoas de caminhos de vida tão diferentes em um objetivo comum”, declarou.


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