Na manhã ensolarada do último domingo, dia 17, o auditório Pedro Calmon da UFRJ levou pouco mais de uma hora até ser ocupado por um público bastante cosmopolita. Entre as fileiras da plateia, o francês se misturava ao português e ao inglês, muitas vezes carregado de sotaque. Com boa vontade, uma midialivrista chilena chegou a arriscar um portunhol ousado. Eles passariam as próximas horas compartilhando suas experiências com as redes sociais em suas comunidades. E, nesse clima de diversidade cultural, foi realizado o painel Movimentos Sociais, no último dia do II Fórum Mundial de Mídia Livre.
Da esquerda: Sam Cyrous, Atílio Alencar, Paulina Azevedo, Michel Lambert, Alymana Balthily e Ivana Bentes |
Integrante da Red de Medios de Los Pueblos, Paulina Azevedo comentou o caso do Chile, onde há grande concentração das propriedades do meios de comunicação, legitimados pelo mesmo marco regulatório desde a ditadura. Ressaltando a importância da comunicação autônoma, disse incentivar a criação de uma agência de comunicação social de cobertura alternativa. Em situação semelhante, encontra-se o continente africano. “Na maior parte da África não há legislação que confira livre acesso às mídias”, assegurou Alymana Bahily, coordenador da Amarc. Defendendo a mídia comunitária, com acesso igualitário e sustentabilidade na multimídia, o senegalês ratificou a necessidade de uma real liberdade de informação.
O midialivrista Sam Cyrous disse acreditar muito no poder das redes. Ele rememorou a campanha Kony, que obteve cem milhões de visualizações no Youtube em apenas seis dias, bem como a eleição de Barack Obama, considerado “Wiki candidato” pelo New York Times. Cyrous também ressaltou o poder das redes em eleger pessoas e destituir governos. “Crianças egípcias estão nascendo com o nome ‘Facebook’ em homenagem àquilo que levou à mudança de regime”, exmplificou.
Ativista cultural e gestor do coletivo Fora do Eixo, Atílio Alencar afirmou que a mídia corporativa não tem interesse em reproduzir o discurso social, sendo a partir daí que surgiria a mídia livre, dando voz às minorias. “Não se trata de estabelecer uma comunicação paliativa ou alternativa, mas de disputar espaço, de ser protagonista dos processos, de intervir diretamente”, explicou. “Trata-se de estabelecer uma conexão entre as diferentes redes, construindo uma costura fina.”
Para a jornalista Michele Torinelli, as pessoas se engajam virtualmente, mas não se preocupam com as questões que estão à sua porta, Para ilustrar, comentou sobre o “Veta, Dilma”, que teve amplo engajamento em redes sociais, principalmente no Facebook. Segundo ela, grande parte das pessoas que defendiam o movimento tinha pouco conhecimento da questão do Código Florestal. Posteriormente, parte do Código foi vetado, mas houve pouca repercussão nas redes. "O excesso de informação que a Internet gera acaba tirando o foco das ações e dificultando seus desdobramentos", acrescentou.
Para o estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal de Pelotas Nikolas Konishi, o engajamento nas redes é importante, porém não pode se tornar um mero “ativismo de sofá”. "A mobilização pode ser organizada no virtual, mas deve acontecer no físico, fora da zona de conforto”.