POR MIRIAM PAÇO
A 20 dias da abertura oficial da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, o coordenador do Instituto Mais Democracia, Carlos Tautz, criticou o debate superficial que tem sido realizado pela mídia quando o assunto é sustentabilidade. A opinião do jornalista foi compartilhada pela pesquisadora Lúcia Santa Cruz, do Instituto de Psicologia da UFRJ, que condenou a cobertura pontual de eventos associados ao meio ambiente. O debate ocorreu na última quinta-feira, dia 24, durante o fechamento do Rizoma Verde, na UFRJ.
A 20 dias da abertura oficial da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, o coordenador do Instituto Mais Democracia, Carlos Tautz, criticou o debate superficial que tem sido realizado pela mídia quando o assunto é sustentabilidade. A opinião do jornalista foi compartilhada pela pesquisadora Lúcia Santa Cruz, do Instituto de Psicologia da UFRJ, que condenou a cobertura pontual de eventos associados ao meio ambiente. O debate ocorreu na última quinta-feira, dia 24, durante o fechamento do Rizoma Verde, na UFRJ.
“Estamos perto da Rio+20 e só o que eu tenho lido sobre o evento é se o texto está fraco ou forte, quem vem ou não à conferência, o caos do trânsito, mas questões realmente essenciais há muito pouco. Não há debate sobre a reconfiguração do capitalismo, sobre o envolvimento do BNDES, que investe mais dinheiro do que o Banco Mundial, nada. Eu gostaria de ver essa discussão na mídia. Quando vejo, além de ser pontual, é na parte de economia e o viés político é sempre deixado de lado”, criticou Carlos Tautz.
Para a professora Lúcia Santa Cruz, a cobertura de questões relacionadas com o meio ambiente é pontual, motivada por eventos e restrita a cadernos de meio ambiente, ciência e tecnologia. “A mídia está deixando vazio o espaço para discussões sobre o que deve ser debatido na Rio+20 e qual a possível relação que o evento teria com a Eco-92. E mesmo em veículos alternativos, a cobertura sempre desce ao nível do indivíduo, responsabilizando-o pelo cuidado do planeta, quando isso deveria ser feito coletivamente.”
No entanto, de acordo com o jornalista Claudio Motta, da Agência O Globo, o desafio está em conseguir separar os temas que poderiam ser de interesse público. “Identificar o que, dentro de uma infinidade de assuntos, tem interesse jornalístico e fazer uma cobertura relevante é difícil. A vantagem da grande imprensa é que esse desafio vai se resolvendo durante a cobertura, extraindo sempre o que é mais importante, dando um olhar carioca, sem excluir ninguém”, disse Claudio.
Da esquerda: Mônica Machado, Marie Beyssac, Lucia Santa Cruz, Cláudio Motta e Carlos Tautz (foto de Yago Barbosa) |
Durante o debate, entre as questões, nem sempre respondidas, foi levantada a pergunta: “Qual o papel do publicitário e do jornalista ao incentivarem o consumo desnecessário e insustentável?”. Para a professora da Eco e coordenadora do Laboratório Universitário de Publicidade Aplicada (Lupa), Mônica Machado, não existe mais, academicamente, a ideia de uma manipulação pela comunicação a partir de um consumidor passivo.
Nesse contexto, as práticas sustentáveis, cada vez mais adotadas por empresas de grande porte como Coca-Cola, Nestlé e Natura, refletem publicamente uma imagem positiva, respaldada pelas instituições de licença ambiental, e ao mesmo tempo contraditória. "Enquanto mantém seus funcionários afastados dessas políticas ambientais, além de um sistema de trabalho terceirizado e muitas vezes utilizando materiais não biodegradáveis, essas empresas adotam espaços públicos, tornando-se patrocinadoras de áreas do Jardim Botânico, por exemplo", explicou a publicitária.
Já para o jornalista Carlos Tautz, é preciso perceber que existem informações objetivas e as interpretações que se faz disso. E lidar com a informação é trabalhar com valores fluidos, difíceis de serem organizados diante de um código regulador insipiente. "O que seria comunicação verde? Não entendo o significado desse termo. Nenhum órgão de comunicação é desvinculado de uma holding com interesses próprios. A Band, por exemplo, tem sempre a pior cobertura quando o assunto é MST. Não por coincidência, ela é dona de várias empresas de negócios agrícolas. Portanto, ao falar sobre as regras florestais, eles defendem os seus interesses particulares. O mesmo ocorre com o Estadão, a Folha, O Globo. Seria preciso um órgão regulador e não controlador, que visse as nuances da comunicação e tratasse dessas questões."
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