quinta-feira, 28 de junho de 2012

Países sul-americanos criticam economia verde

POR REBECA GEHREN

Em meio aos discursos de representantes e chefes de Estado de 191 países, Bolívia, Equador e Venezuela posicionaram-se contra a economia verde. O conceito foi impulsionado ao final da Rio+20 no documento final intitulado “O futuro que queremos”. Com diferentes visões e interpretações, esses países acreditam que a transição para a economia verde mercantiliza a natureza.


Evo Morales em plenária oficial
O presidente da Bolívia, Evo Morales, considerou a economia verde uma nova forma de colonialismo. Ele acredita que o ambientalismo é um sistema capitalista que quantifica a natureza e os seres vivos. Segundo Morales, enquanto os países pobres carregam a responsabilidade de proteger o meio ambiente, os países mais ricos enriquecem por meio da exploração dos recursos naturais. “As instituições do Sul são submissas e abrem mão de recursos para os países do Norte. A vida não é um direito. É apenas mais um recurso para os capitalistas", concluiu o presidente.

Para Rafael Correa, presidente do Equador, os países pobres têm os bens ambientais, e os países ricos consomem o que não têm. “Se o seu país quiser comprar um trator de um país rico, terá que pagar por isso, porém os países ricos não pagam por consumir os bens ambientais dos países pobres”, criticou Correa, que também afirmou que as medidas do Protocolo de Kyoto foram insuficientes e injustas.

O líder equatoriano apresentou um gráfico, mostrando que a proporção de emissão de carbono entre os países ricos e pobres é de 83 para um. Em outro gráfico, que comparou o consumo total de energia de 1971 a 2009 entre os países latino-americanos e os desenvolvidos, os dois grupos aumentaram progressivamente o consumo de energia. Apesar da diferença de quantidade e intensidade de consumo entre ambos, não houve diminuição de gastos mesmo depois da Rio 92.

Rafael Correa em discurso no dia 21 de junho
Já Claudia Sarleno, vice-ministra de Negócios Estrangeiros da Venezuela, afirmou que os países ricos buscam um novo acordo para fugir do Protocolo de Kyoto, jogando a responsabilidade para os países pobres. “Eles não querem cumprir o Protocolo de Kyoto, mas querem fazer uso da compra de carbonos”, disse Sarleno, que também fez duras críticas aos Estados Unidos, pois rejeitaram o projeto de um fundo para o desenvolvimento sustentável na Rio+20, porém gastaram centenas de bilhões durante a crise imobiliária. “Os Estados Unidos preferem disponibilizar dinheiro para salvar bancos e não para salvar o planeta”, provocou.

A vice-ministra ressaltou que os países do colonialismo são os mesmos que querem impor os padrões de consumo verde. “A crise ambiental é uma boa oportunidade de negócios. Em um planeta com recursos finitos não se pode mandar o povo consumir mais, A bandeira ambiental não pertence ao capitalismo. A única cor verde é a do dinheiro”, enfatizou.

Após a aprovação do documento final da Rio+20 pelos chefes de Estado, a Bolívia reiterou sua posição contrária à economia verde e a tudo que capitalize a natureza, pois considera que os países devem ter autonomia para decidir como praticar o desenvolvimento sustentável. Para o país, a aplicação do parágrafo 225, referente ao racionamento dos subsídios aos combustíveis fósseis, fere a autonomia do Estado. Os bolivianos disseram que não aceitarão o monitoramento de suas energias naturais. O Equador, do mesmo modo, manterá o controle soberano sobre suas fontes de energia. Apesar de não ter se manifestado quanto ao tema no final da conferência, a Venezuela também afirmou que não aceitará o monitoramento de qualquer medidor internacional sobre sua energia em defesa da soberania nacional.
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