POR MARCIO TAVARES D’AMARAL (*)
Sou professor universitário há 40 anos. E sou contra greves de professores públicos. Greves, invenção dos operários no século XIX, têm uma estrutura simples: trabalhadores param, perdem os salários; empregadores perdem os lucros. É preciso negociar. E a greve é em si mesma um fato político. A sociedade entende, a mídia cobre. Conosco, não. Mantemos os salários. O governo não tem prejuízo, salvo o da imagem. Como a mídia não cobre, a sociedade não sabe desse desgaste. E nossas greves se arrastam, a população não sabe exatamente por que. Maiores salários, claro. Plano de carreira? Muito abstrato. Nossa greve não é um fato político autoexplicativo. Precisa ser interpretada. Mas nós não chegamos ao povo. O governo se faz de morto. Ninguém produz imagem. Numa sociedade para a qual só a imagem dá realidade, ficamos invisíveis. Nossas universidades, vazias. E os alunos, que têm esperanças e olham para nós, são os que perdem.
Podia ser diferente. Em tantas universidades haverá uma centena de professores de projeção nacional. Cem docentes na rampa do Planalto! Ou são recebidos — e dá mídia. Ou não são — e dá mídia. Porque isso é fato político. Cem professores no plenário, nas comissões. Publicando na grande imprensa. Com essa visibilidade, publicam. E os artigos vão para as redes. Alcançam longe. E todas as universidades, na mesma semana, suspendem as aulas e discutem o seu caminho. Com a visibilidade adquirida, fala para o público, do qual somos servidores. As aulas não param, os estudantes não são punidos por nós.
Se fizéssemos isto, a sociedade ficaria sabendo como são tratados os professores universitários. Ganham menos do que os técnicos de Ciência e Tecnologia e do Ipea. Como eles, criamos conhecimento. Diferentemente deles, produzimos gente. Futuro. E ganhamos menos. Explicação? Nenhuma. E a sociedade saberia. Criando fatos que geram imagens furaríamos o silêncio.
E quando o governo apresentasse suas propostas ficaria mais fácil mostrar que os aumentos estão apontando para o topo da carreira, onde há muito poucos, e para a base, onde não há ninguém. Para 80% dos docente os índices propostos são menores. E, dependendo da inflação até 2015, perde-se poder aquisitivo. Os titulares, como eu, ganham. Os auxiliares, como quase ninguém, ganham. Os demais perdem. Não dá para fazer seguro contra a inflação. O governo trabalha com números menores.
É um caminho mais justo. Perde quem tem de perder. Os professores entram no jogo de corpo inteiro. Mas aí a luta sindical fica um tanto enfraquecida... De modo que a sociedade fica ignorante, os alunos ficam em suspenso. Nós paramos de produzir.
O governo, os poderes, agradecem.
(*) Texto retirado do caderno Opinião do jornal O Globo (27/07/2012)
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